Comissão define plano de ação para combater casos de escalpelamento.
Em 2016, foram registrados seis acidentes por escalpelamento
nos rios do Pará. Número que diminuiu em 50% com relação aos casos confirmados
em 2015. Naquele ano, foram registrados 11 acidentes. Para reduzir e quem sabe
zerar o número de casos, um plano de ação para o combate ao escalpelamento foi
definido pelas entidades que fazem parte da Comissão Estadual de Enfrentamento
dos Acidentes com Escalpelamento.
A Política de Enfrentamento aos Acidentes de Motor com
escalpelamento do Governo do Pará foi criada para garantir o direito às vítimas
e promover uma rede de serviços assistenciais para promover a conscientização
pública por meio de campanhas, mobilizar a sociedade civil, realizar acordo com
gestores municipais, ampliar a cobertura do eixo e fiscalizar as embarcações em
parceria com a Capitania dos Portos.
A coordenadora estadual da Comissão, Socorro Silva, destaca
que durante o primeiro período crítico do ano - o feriadão de carnaval - não
foi computado nenhum acidente. “Nesta época há uma grande circulação de
embarcações nos rios paraenses. Somente no ano passado, por exemplo, neste
mesmo período foi registrado um caso”, comparou.
A redução aponta para o fato de que o Estado deve
intensificar as campanhas educativas e a fiscalização para finalmente alcançar
a erradicação dos acidentes causadores do escalpelamento. “Vamos intensificar
nossas atividades para que finalmente não aconteça nenhum acidente”, afirmou.
Um dos grandes desafios para este ano, explica a
coordenadora, é intensificar a responsabilidade no que diz respeito ao
transporte escolar realizado por embarcações no Pará. Ela ressalta que um dos
acidentes no ano passado vitimou uma condutora de uma embarcação que
transportava alunos de uma escola no interior do estado. “O transporte escolar
é uma responsabilidade da gestão municipal por isso a Comissão começou a
discutir a responsabilização e aplicabilidade da Lei através da punição”,
destaca.
De 1979 a 2016 foram registrados 402 casos de escalpelamento
no Estado. Os seis acidentes ocorridos em 2016 vitimaram mulheres, cinco delas
menores de idade. Quatro casos ocorreram no Arquipélago do Marajó nos
municípios de Melgaço, Gurupá, Chaves e Anajás e dois na região do Tocantins
nos municípios de Limoeiro do Ajurú e Mocajuba. E foi em Mocajuba o último registro,
em 11 de novembro de 2016, com uma vítima de apenas quatro anos de idade.
Socorro Silva também explica que a Comissão está estudando
uma forma de fornecer retaguarda às famílias que têm suas embarcações
apreendidas. Ela comenta que quase sempre é na própria embarcação da família da
vítima que acontecem os acidentes. “Também temos que trabalhar a questão da
família, assim como os direitos das crianças e adolescentes, pois os acidentes
envolvem esta faixa etária”, explica.
Rede de atendimento – A estudante Raíssa Rodrigues, de
15 anos, moradora do município de Curralinho, no Arquipélago do Marajó, sofreu
o acidente quando tinha 9 anos. Ela é uma das vítimas atendidas no Espaço
Acolher, mantido pela Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.
A casa de apoio acolhe as vítimas de escalpelamento, que
podem se hospedar durante o período de longo tratamento. No local, as mulheres
recebem o apoio de profissionais de psicologia e serviço social. Elas também
participam de cursos e de aulas com professores da rede estadual, responsáveis
pela educação do ensino fundamental e médio, por meio do Projeto Classe
Hospitalar.
Raíssa é um exemplo de vítima que mesmo depois de seis anos
ainda continua realizando tratamento, e quando vem a Belém fica no Espaço
Acolher junto com os familiares que a acompanham. Durante a última
permanência participou de uma oficina de decupagem de figuras em toalhas e
sabonete.
A coordenadora do Espaço Acolher, a assistente social Luzia
Matos, comemora a redução dos casos, e explica que este é o resultado de mais
de 10 anos de combate aos acidentes. O local atende mais de 150 pacientes que
continuam seus tratamentos e dependem do acolhimento realizado pela entidade.
“O tratamento é contínuo. As vítimas ficam com sequelas para vida toda,
por isso é preciso que estejamos abertos e alertas para acolhê-las”, explica.
Foto: Thiago Gomes - Agência Pará de Notícias.
Texto: Márcio Flexa - Agência Pará de Notícias.
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